domingo, 10 de agosto de 2014



Águas salgadas e doces circundam a cidade. Vivo numa ilha e o mar está a poucos passos de onde estou. Em meu bairro há grandes lagos. Águas integram a vida urbana, tal qual um comandante integra a ponte de um navio. Com águas convivo. São azuis líquidos, a cor de minha saudade. Deixo-me guiar por seu ritmo e, sempre que possível, busco sua presença. Ela é misteriosa e bela em toda sua plenitude. Constantemente, exercito desvendar seu claro rosto, quando – em vão – procuro palavrear a sua real existência e o poder que em mim exerce. Ao vê-la, me sinto feliz. Meus passos então se apressam e, em minha sofreguidão, acabo correndo para nela molhar meus pés ou para brincar com sua fresca liquidez que escorre pelos meus braços. Contudo, em sua constante mudez, cobre-me de melancolia. Um filetezinho de melancolia, talvez!

Margeio os lagos ao entardecer, onde há dois caminhos paralelos: um para pedestres, outro para os ciclistas e, mais abaixo, há uma larga plataforma, diretamente na beira, no cais, pela qual as pessoas passeiam e praticam corrida. Prédios centenários de moradia exibem suntuosas sacadas por toda a extensão. Olho para os lagos. Agora há centenas de pequeninos cristais distribuídos em suas serenas águas. Uma comitiva elegante de cisnes – em macias plumagens –- está a nadar pela imensidão azul, em fileiras. Os cisnes deslizam pelas águas de forma suave e leve, como se fossem pétalas brancas. Depois se espalham novamente e comem plantas aquáticas que pescam lá do fundo do leito. Por encantamento, um casal de cisnes enamorados começa a cortejar. Até parece que sabiam que eu queria fotografá-los. Por estas cenas, na verdade, eu havia esperado já de longa data. Num delicado ritmo, os cisnes nadam um em frente ao outro e se aproximam carinhosamente: surge assim, a forma perfeita do amor. Em amável e expressiva linguagem, dançam e se tocam. Me emocionei, é belíssimo. Um casal de cisnes jamais se separa.

Por sobre a mole e abundante superfície A água é vital. Águas procuram caminhos, deitam sossegadas em grandes vales, rastejam feito serpentes e se entregam ao mar. Penetram em fiordes, saltam cataratas, se movimentam em gigantescas ondas e abraçam arquipélagos. Elas banham cidades e separam continentes.

Paradas, serenas e profundas, transformam- se num brilhantíssimo espelho. Todavia, podem se apresentar abundantes e poderosas e se movem em violentas ondas.



Águas salgadas e doces circundam meus caminhos. Vivo numa ilha e o mar está a poucos passos de onde estou. Em meu bairro há grandes lagos também. Águas integram essa cidade, assim como um comandante faz parte da ponte de um navio. Com águas convivo. Azuis líquidos, a cor da saudade. Gosto de estar em sua companhia, sempre que possível, busco sua presença. Ela é misteriosa e bela em sua transparência. Constantemente, exercito desvendar seu claro rosto e tento – em vão – palavrear a sua real existência e o poder que por sobre mim exerce. Ao vê-la, me sinto feliz. Meus passos então se apressam e, em minha sofreguidão, acabo correndo para nela molhar meus pés ou para brincar com sua fresca liquidez que corre pelos meus braços. Contudo, em sua constante mudez, cobre-me de melancolia. Há algo nela que me passa um filetinho de dor... Algo que ainda não consegui nomear.

Margeio os lagos ao entardecer, onde há dois caminho paralelos: um para pedestres, outro para as ciclistas e, mais abaixo, há uma larga plataforma, diretamente na beira, no cais, onde as pessoas praticam corridas, passeiam e descansam nos bancos. Prédios centenários exibem suntuosas sacadas por toda a extensão. Olho para os lagos. Agora há centenas de pequeninos cristais distribuídos em suas serenas águas. Um cortejo de cisnes – em macias plumagens –- nada pela imensidão azul, em fileiras. Depois se espalham e comem plantas aquáticas que pescam lá do fundo do leito. Por encantamento, um casal de cisnes enamorados começa a cortejar. Até parece que sabiam que eu tanto queria fotografá-los. Por estas cenas, na verdade, eu havia esperado já de longa data. Num delicado ritmo, os cisnes nadam um em frente ao outro e aproximam carinhosamente suas cabeças, formando a forma perfeita do amor. Em amável e expressiva linguagem, dançam de forma elegante e se tocam. Me emocionei, é belíssimo. Fiquei a vê-los por mais de uma hora. Ao nadar, deslizam pelas águas, suaves e leves, como se fossem pétalas brancas. Um casal de cisnes vive junto para sempre, sempre.

A água transmite sossego, o ritmo sempre igual embala-me com doçura. Ouço seus ruídos que me são melódicos. Paradas e profundas, águas transformam- se em um brilhantíssimo espelho. Podem se apresentar abundantes e poderosas em violentas ondas. Águas de mar, de chuva, de rios e riachos, de lagos. Águas procuram caminhos, nascem em montanhas, deitam sossegadas em grandes vales, rastejam feito serpentes e se entregam ao mar. Elas banham cidades, penetram em fiordes, saltam cataratas e abraçam arquipélagos. Águas separam países e continentes.




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Águas salgadas e doce circundam meus caminhos. Vivo numa ilha e o mar está a poucos passos de onde estou. Em meu bairro há grandes lagos também. Águas fazem dessa cidade, como a proa faz parte de um navio. Convivo com a água. Azuis líquidos, a cor da saudade. Gosto de estar em sua companhia, sempre que possível, busco sua presença. Ela é misteriosa e bela em sua transparência. Constantemente, exercito desvendar seu claro rosto e tento – em vão – palavrear a sua real existência e o poder que por sobre mim exerce. Ela é infinita em toda sua existência. Ao vê-la, me sinto feliz. Meus passos então se apressam e, em minha sofreguidão, acabo correndo para nela molhar meus pés ou para brincar com sua fresca liquidez que corre pelos meus braços. Contudo, em sua constante mudez, cobre-me de melancolia. Margeio os lagos ao entardecer, onde há um caminho para passantes e outro para as bicicletas. Agora há centenas de pequeninos cristais distribuídos em suas serenas águas. Um cortejo de cisnes nada nada pela extremidade azul, em fileiras. Depois se espalham – pais e filhos, e comem plantas aquáticas que pescam lá do fundo. E, para minha felicidade, um casal de cisnes brancos começa a cortejar. Até parece que sabiam que eu tanto queria fotografar estas cenas. Num delicado ritmo, em linguagem compreensível, dançam a música do amor. Me emocionei, é belíssimo. E eu senti uma pontada de alegria. Fiquei a vê-los por mais de uma hora. Ao nadar, deslizam pelas águas como se fossem um pacotinho de algodão doce. A água transmite sossego, o ritmo sempre igual embala-me com doçura. Ouço seus ruídos que me são melódicos. Paradas e profundas, águas transformam- se em um brilhante espelho. São abundantes e poderosas. Tão completas. Águas de mar, de chuva, de rios, de lagos. Águas procuram caminhos, nascem em montanhas, deitam em vales, rastejam e feito serpentes e se entregam ao mar.

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