quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Celina tomou o cuidado
para não escolher uma tonalidade muito forte para pintar as paredes de sua terceira casa, preferiu uma matiz que deixasse transparecer um filete de cor azul em meio ao verde, quase como um verde jade. Era uma gradação mais escura que a esmeralda e mais clara que o verde-broto. A nuança refletia vitalidade e harmonia. A casa verde aninhava-se em meio à vegetação abundante e dela quase não se destacava. Era como se tivesse brotado da terra, feito flores e arbustos. Parecia ter sido semeada ou plantada, para estar justo ali, naquele lugar e em nenhum outro. Por um instante, eu podia imaginar uma casa com raízes, fortemente presa ao solo. Poderia pensar num fundamento feito tronco; e aposentos, como se fossem ramos; um telhado, feito folhas. A casa verde era um sobrado com a cor da natureza, sereno e confortável. Contudo, Celina optou em manter a cor branca para as venezianas e para as portas. Elas receberam novas pinceladas de branco clean, com o intuito de disfarçar a desbotadura que foi adquirida durante os anos de existência da Casa Rosada – injúrias que o tempo elabora e marca. As venezianas, em sua alvura, pareciam sorrisos que iluminavam a pele verde do sobrado. Janelas convidativas, estavam sempre abertas. Ciprestes formavam uma cerca que separava a estrada da moradia. A casa não tinha portão nem grades. Foi construída de frente para um arvoredo.