Águas salgadas e doces circundam a cidade. Vivo numa ilha e o mar
está a poucos passos de onde estou. Em meu bairro há grandes lagos.
Águas integram a vida urbana, tal qual um comandante integra a ponte
de um navio. Com águas convivo. São azuis líquidos, a cor de minha
saudade. Deixo-me guiar por seu ritmo e, sempre que possível, busco
sua presença. Ela é misteriosa e bela em toda sua plenitude.
Constantemente, exercito desvendar seu claro rosto, quando – em vão
– procuro palavrear a sua real existência e o poder que em mim
exerce. Ao vê-la, me sinto feliz. Meus passos então se apressam e,
em minha sofreguidão, acabo correndo para nela molhar meus pés ou
para brincar com sua fresca liquidez que escorre pelos meus braços.
Contudo, em sua constante mudez, cobre-me de melancolia. Um
filetezinho de melancolia, talvez!
Margeio os lagos ao entardecer, onde há dois caminhos paralelos: um
para pedestres, outro para os ciclistas e, mais abaixo, há uma larga
plataforma, diretamente na beira, no cais, pela qual as pessoas
passeiam e praticam corrida. Prédios centenários de moradia exibem
suntuosas sacadas por toda a extensão. Olho para os lagos. Agora há
centenas de pequeninos cristais distribuídos em suas serenas águas.
Uma comitiva elegante de cisnes – em macias plumagens –- está a
nadar pela imensidão azul, em fileiras. Os cisnes deslizam pelas
águas de forma suave e leve, como se fossem pétalas brancas. Depois
se espalham novamente e comem plantas aquáticas que pescam lá do
fundo do leito. Por encantamento, um casal de cisnes enamorados
começa a cortejar. Até parece que sabiam que eu queria
fotografá-los. Por estas cenas, na verdade, eu havia esperado já de
longa data. Num delicado ritmo, os cisnes nadam um em frente ao outro
e se aproximam carinhosamente: surge assim, a forma perfeita do amor.
Em amável e expressiva linguagem, dançam e se tocam. Me emocionei,
é belíssimo. Um casal de cisnes jamais se separa.
Por sobre a mole e abundante superfície A água é vital. Águas
procuram caminhos, deitam sossegadas em grandes vales, rastejam feito
serpentes e se entregam ao mar. Penetram em fiordes, saltam
cataratas, se movimentam em gigantescas ondas e abraçam
arquipélagos. Elas banham cidades e separam continentes.
Paradas, serenas e profundas, transformam- se num brilhantíssimo
espelho. Todavia, podem se apresentar abundantes e poderosas e se
movem em violentas ondas.
Águas salgadas e doces circundam meus caminhos. Vivo numa ilha e o
mar está a poucos passos de onde estou. Em meu bairro há grandes
lagos também. Águas integram essa cidade, assim como um comandante
faz parte da ponte de um navio. Com águas convivo. Azuis líquidos,
a cor da saudade. Gosto de estar em sua companhia, sempre que
possível, busco sua presença. Ela é misteriosa e bela em sua
transparência. Constantemente, exercito desvendar seu claro rosto e
tento – em vão – palavrear a sua real existência e o poder que
por sobre mim exerce. Ao vê-la, me sinto feliz. Meus passos então
se apressam e, em minha sofreguidão, acabo correndo para nela molhar
meus pés ou para brincar com sua fresca liquidez que corre pelos
meus braços. Contudo, em sua constante mudez, cobre-me de
melancolia. Há algo nela que me passa um filetinho de dor... Algo
que ainda não consegui nomear.
Margeio os lagos ao entardecer, onde há dois caminho paralelos: um
para pedestres, outro para as ciclistas e, mais abaixo, há uma larga
plataforma, diretamente na beira, no cais, onde as pessoas praticam
corridas, passeiam e descansam nos bancos. Prédios centenários
exibem suntuosas sacadas por toda a extensão. Olho para os lagos.
Agora há centenas de pequeninos cristais distribuídos em suas
serenas águas. Um cortejo de cisnes – em macias plumagens –-
nada pela imensidão azul, em fileiras. Depois se espalham e comem
plantas aquáticas que pescam lá do fundo do leito. Por
encantamento, um casal de cisnes enamorados começa a cortejar. Até
parece que sabiam que eu tanto queria fotografá-los. Por estas
cenas, na verdade, eu havia esperado já de longa data. Num delicado
ritmo, os cisnes nadam um em frente ao outro e aproximam
carinhosamente suas cabeças, formando a forma perfeita do amor. Em
amável e expressiva linguagem, dançam de forma elegante e se tocam.
Me emocionei, é belíssimo. Fiquei a vê-los por mais de uma hora.
Ao nadar, deslizam pelas águas, suaves e leves, como se fossem
pétalas brancas. Um casal de cisnes vive junto para sempre, sempre.
A água transmite sossego, o ritmo sempre igual embala-me com doçura.
Ouço seus ruídos que me são melódicos. Paradas e profundas, águas
transformam- se em um brilhantíssimo espelho. Podem se apresentar
abundantes e poderosas em violentas ondas. Águas de mar, de chuva,
de rios e riachos, de lagos. Águas procuram caminhos, nascem em
montanhas, deitam sossegadas em grandes vales, rastejam feito
serpentes e se entregam ao mar. Elas banham cidades, penetram em
fiordes, saltam cataratas e abraçam arquipélagos. Águas separam
países e continentes.
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Águas salgadas e doce circundam meus caminhos. Vivo numa ilha e o
mar está a poucos passos de onde estou. Em meu bairro há grandes
lagos também. Águas fazem dessa cidade, como a proa faz parte de um
navio. Convivo com a água. Azuis líquidos, a cor da saudade.
Gosto de estar em sua companhia, sempre que possível, busco sua
presença. Ela é misteriosa e bela em sua transparência.
Constantemente, exercito desvendar seu claro rosto e tento – em vão
– palavrear a sua real existência e o poder que por sobre mim
exerce. Ela é infinita em toda sua existência. Ao vê-la, me sinto
feliz. Meus passos então se apressam e, em minha sofreguidão, acabo
correndo para nela molhar meus pés ou para brincar com sua fresca
liquidez que corre pelos meus braços. Contudo, em sua constante
mudez, cobre-me de melancolia. Margeio os lagos ao entardecer, onde
há um caminho para passantes e outro para as bicicletas. Agora há
centenas de pequeninos cristais distribuídos em suas serenas águas.
Um cortejo de cisnes nada nada pela extremidade azul, em fileiras.
Depois se espalham – pais e filhos, e comem plantas aquáticas que
pescam lá do fundo. E, para minha felicidade, um casal de cisnes
brancos começa a cortejar. Até parece que sabiam que eu tanto
queria fotografar estas cenas. Num delicado ritmo, em linguagem
compreensível, dançam a música do amor. Me emocionei, é
belíssimo. E eu senti uma pontada de alegria. Fiquei a vê-los por
mais de uma hora. Ao nadar, deslizam pelas águas como se fossem um
pacotinho de algodão doce. A água transmite sossego, o ritmo sempre
igual embala-me com doçura. Ouço seus ruídos que me são
melódicos. Paradas e profundas, águas transformam- se em um
brilhante espelho. São abundantes e poderosas. Tão completas. Águas
de mar, de chuva, de rios, de lagos. Águas procuram caminhos, nascem
em montanhas, deitam em vales, rastejam e feito serpentes e se
entregam ao mar.