quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Celina tomou o cuidado
para não escolher uma tonalidade muito forte para pintar as paredes de sua terceira casa, preferiu uma matiz que deixasse transparecer um filete de cor azul em meio ao verde, quase como um verde jade. Era uma gradação mais escura que a esmeralda e mais clara que o verde-broto. A nuança refletia vitalidade e harmonia. A casa verde aninhava-se em meio à vegetação abundante e dela quase não se destacava. Era como se tivesse brotado da terra, feito flores e arbustos. Parecia ter sido semeada ou plantada, para estar justo ali, naquele lugar e em nenhum outro. Por um instante, eu podia imaginar uma casa com raízes, fortemente presa ao solo. Poderia pensar num fundamento feito tronco; e aposentos, como se fossem ramos; um telhado, feito folhas. A casa verde era um sobrado com a cor da natureza, sereno e confortável. Contudo, Celina optou em manter a cor branca para as venezianas e para as portas. Elas receberam novas pinceladas de branco clean, com o intuito de disfarçar a desbotadura que foi adquirida durante os anos de existência da Casa Rosada – injúrias que o tempo elabora e marca. As venezianas, em sua alvura, pareciam sorrisos que iluminavam a pele verde do sobrado. Janelas convidativas, estavam sempre abertas. Ciprestes formavam uma cerca que separava a estrada da moradia. A casa não tinha portão nem grades. Foi construída de frente para um arvoredo.


quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Doce de cana

Quando os dias eram inchados de novidades.  

Perto do estábulo, lá onde o muro de pedras formava a divisa das terras de Irene e das nossas, ao lado do pântano, onde cresciam aguapés, salgueiros, inhames e taboas... lá estava a moenda de cana-de-açúcar. Era uma construção singular que nunca decifrávamos por inteiro, mas que nos seduzia. Farejávamos  a sua forma, sua rústica espessura e o acre aroma de garapa que expelia de seus moinhos lenhosos. De vez em quando, Sofia e eu brincávamos nos grossos troncos de angico, em cima dos quais o engenho fora construído. Pulávamos de uma base para a outra, fazendo piruetas, ou formávamos uma gangorra com uma tábua qualquer, sem assentos e sem alavancas, o que não nos concedia segurança alguma em nossas selvagens acrobacias. A prancha escorregava em cima dos troncos e muitas vezes a gangorra, por nós edificada, tombava no chão, quando caíamos junto com ela. Ainda assim, nunca nos machucávamos. Gritávamos de entusiasmo quando as extremidades do balancé nos erguia para cima e nos jogava para baixo outra vez. A moenda era uma espécie de parque de brinquedos, um lugar que sugeria aventuras – o nosso playground. 

De tempos em tempos, quando mamãe abria a última lata de doce do estoque, era hora de transformar a seiva da cana de açúcar em schmier - um processo rudimentar, mas efetivo. Começávamos com o corte e com a limpeza dos caules no canavial. Os pendões, de folhas lancetadas e que machucavam a pele, aproveitávamos como pasto para os animais. Os colmos cortados, espessos e rígidos, eram transportados com a carroça de bois até o engenho. Ao entardecer, quando o sol se despedia devagarinho, iniciávamos a laminação. Atrelávamos a junta de bois na canga. O tronco da moenda, uma espécie de eixo principal, era cuidadosamente preso no jugo. E, assim que os animais começavam a tropear em círculo, as rodas giravam entre si e a engrenagem se punha em movimento. Eu andava atrás dos bois para atiçá-los, caso fosse necessário, e juntos formávamos um profundo lamaçal na terra arenosa. Mamãe colocava a ponta dos colmos, cortadas em forma de flechas, entre os dois grandes moinhos de madeira, onde os nós e os entre-nós da cana eram esmagados, implacavelmente. Do outro lado, Dora recebia os talhos já triturados e repetia o processo. A garapa escorria pelos grossas rodas e se juntava na bica da moenda, de onde corria para um grande cocho de madeira. Ana era a escolhida por mamãe para carregar a seiva até o paiol. Talvez ela escolhera Ana por ser a mais cuidadosa entre nós meninas, a que levava mais jeito nas lides da casa, possivelmente Ana era a que tropeçava menos - a que falava eu quero ser enfermeira quando crescer. Eu ficava pensando nisto e interpretava as escolhas de mamãe sem, porém, nunca retrucá-las. Ana despejava o líquido no tacho de cobre já edificado em cima de uma base de tijolos no alpendre do paiol de milho. Terminada a laminação, o tacho era devidamente fechado, protegendo a garapa do vento, do pó ou de outros possíveis invasores. Na manhã seguinte, muito cedo, ainda antes da alvorada do sino, era acendido o fogo para dar início ao cozimento. 


O alpendre estava varrido. Os utensílios de lavoura haviam sido agrupados no canto do paiol. Mochinhos de lenha e cadeiras circundavam o fogaréu. O alpendre parecia, na verdade, uma grande sala, o lugar por nós escolhido e preparado – ali sentávamos, já inquietas. Nos alojávamos nas melhores posições ao redor da panela de cobre. Por um momento fugaz, acreditávamos estar aconchegadas no banco de um grande cinema... ou, como se uma peça de teatro para nós seria apresentada, em cuja trama todavia, nós crianças éramos os protagonistas. O momento era nosso e não havia nada que, por ventura, pudesse perturbá-lo. Com efeito, não perdíamos um único detalhe e a fumaça cheirava  e ardia em nossos olhos. E o que importava?  A realidade era mágica e... aromática.


Durante muitas horas, a garapa fumegava dentro do tacho, reunindo nas extremidades partículas escuras, próprias da cana. Uma sólida espuma se formava por sobre o doce líquido, que mamãe tirava com uma grande escumadeira de cabo comprido. Este era um trabalho delicado e minucioso, pois somente com a limpeza eficiente da garapa, é que se obtinha um doce claro e transparente. Com um taco de madeira, especialmente feito por meu pai para este fim, mexíamos a fervura horas a fio. Era, na verdade, um processo lento que durava quase um dia inteiro. Todas nós ajudávamos nesta atividade, quando imitávamos os gestos perfeitos de mamãe, quando balançava o corpo num movimento de vai-e-vem, vagaroso mas constante, uma vez que ela considerava importante atingir todo o diâmetro do tacho. Era como se dançasse, como se tivesse que ajudar no cozimento com todo o seu corpo e sua alma, como se somente dela e de seus gestos harmoniosos dependesse a qualidade do produto. Em sua inquebrantável responsabilidade, mamãe não cansava de nos advertir sobre o calor intenso do fogo e não permitia que chegássemos perto demais do fogaréu. Mamãe dizia que todo o cuidado era pouco, e Ana explicava com todas as letras que uma queimadura demorava semanas e meses até sarar. De vez em quando, mamãe tirava do tacho algumas amostras da mistura, deixando-a esfriar, verificando dessa maneira, a consistência do doce. Ela deixava-a escorrer diante da luz e calculava a sua cor, mexia-a com a colher e analisava o creme de forma minuciosa. No término do processo, mamãe enchia vidros e latas com a mistura fumegante. Ela dizia que era necessário fechá-la ainda quente, assim a marmelada durava meses, sem formar camadas de bolor na extremidade do vidro. 

Depois das últimas conchadas, o tacho era nosso. Lambíamos e juntávamos os restos com nossas colheres e nos deliciávamos com o sabor da marmelada ainda morna. No final do dia, estávamos tatuadas de fuligem negra. Nossos vestidos de riscado, costurados por mamãe, estavam grudentos e sujos, impregnados de restos de melado. Entretanto, os dias que ocupávamos para fazer o cozimento eram épicos, quase folclóricos. Era a suavidade da vida que experimentávamos – a nossa vida telúrica, temperada com a vitalidade do doce na cana-de-açúcar que bebíamos. Eram sabores de uma infância sadia e cheia de liberdade e... de tantos privilégios.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

 Acompanho o transformar da natureza. É impossível não sentir seus ritmos extremamente definidos, principalmente quando se vive no hemisfério norte. Agosto chegou. Mês dos hibiscos, das dálias, das... As malvas já estão com sementes. E as maças aduiriram bochechas vermelhas. Os dias estão  mais curtos, há outros ventos e cheiros - aqui é verão tardio. Há outros luzes,. O verão está por um fio. E o outono me parece... já está na soleira da porta, a esperar covite para entrar. Estas mudanças são essenciais e me envolvem. Ah, é um sentir imenso. A exuberância das cores me inspira e eu sou arrastada por uma força que ainda não consegui definir.

domingo, 10 de agosto de 2014



Águas salgadas e doces circundam a cidade. Vivo numa ilha e o mar está a poucos passos de onde estou. Em meu bairro há grandes lagos. Águas integram a vida urbana, tal qual um comandante integra a ponte de um navio. Com águas convivo. São azuis líquidos, a cor de minha saudade. Deixo-me guiar por seu ritmo e, sempre que possível, busco sua presença. Ela é misteriosa e bela em toda sua plenitude. Constantemente, exercito desvendar seu claro rosto, quando – em vão – procuro palavrear a sua real existência e o poder que em mim exerce. Ao vê-la, me sinto feliz. Meus passos então se apressam e, em minha sofreguidão, acabo correndo para nela molhar meus pés ou para brincar com sua fresca liquidez que escorre pelos meus braços. Contudo, em sua constante mudez, cobre-me de melancolia. Um filetezinho de melancolia, talvez!

Margeio os lagos ao entardecer, onde há dois caminhos paralelos: um para pedestres, outro para os ciclistas e, mais abaixo, há uma larga plataforma, diretamente na beira, no cais, pela qual as pessoas passeiam e praticam corrida. Prédios centenários de moradia exibem suntuosas sacadas por toda a extensão. Olho para os lagos. Agora há centenas de pequeninos cristais distribuídos em suas serenas águas. Uma comitiva elegante de cisnes – em macias plumagens –- está a nadar pela imensidão azul, em fileiras. Os cisnes deslizam pelas águas de forma suave e leve, como se fossem pétalas brancas. Depois se espalham novamente e comem plantas aquáticas que pescam lá do fundo do leito. Por encantamento, um casal de cisnes enamorados começa a cortejar. Até parece que sabiam que eu queria fotografá-los. Por estas cenas, na verdade, eu havia esperado já de longa data. Num delicado ritmo, os cisnes nadam um em frente ao outro e se aproximam carinhosamente: surge assim, a forma perfeita do amor. Em amável e expressiva linguagem, dançam e se tocam. Me emocionei, é belíssimo. Um casal de cisnes jamais se separa.

Por sobre a mole e abundante superfície A água é vital. Águas procuram caminhos, deitam sossegadas em grandes vales, rastejam feito serpentes e se entregam ao mar. Penetram em fiordes, saltam cataratas, se movimentam em gigantescas ondas e abraçam arquipélagos. Elas banham cidades e separam continentes.

Paradas, serenas e profundas, transformam- se num brilhantíssimo espelho. Todavia, podem se apresentar abundantes e poderosas e se movem em violentas ondas.



Águas salgadas e doces circundam meus caminhos. Vivo numa ilha e o mar está a poucos passos de onde estou. Em meu bairro há grandes lagos também. Águas integram essa cidade, assim como um comandante faz parte da ponte de um navio. Com águas convivo. Azuis líquidos, a cor da saudade. Gosto de estar em sua companhia, sempre que possível, busco sua presença. Ela é misteriosa e bela em sua transparência. Constantemente, exercito desvendar seu claro rosto e tento – em vão – palavrear a sua real existência e o poder que por sobre mim exerce. Ao vê-la, me sinto feliz. Meus passos então se apressam e, em minha sofreguidão, acabo correndo para nela molhar meus pés ou para brincar com sua fresca liquidez que corre pelos meus braços. Contudo, em sua constante mudez, cobre-me de melancolia. Há algo nela que me passa um filetinho de dor... Algo que ainda não consegui nomear.

Margeio os lagos ao entardecer, onde há dois caminho paralelos: um para pedestres, outro para as ciclistas e, mais abaixo, há uma larga plataforma, diretamente na beira, no cais, onde as pessoas praticam corridas, passeiam e descansam nos bancos. Prédios centenários exibem suntuosas sacadas por toda a extensão. Olho para os lagos. Agora há centenas de pequeninos cristais distribuídos em suas serenas águas. Um cortejo de cisnes – em macias plumagens –- nada pela imensidão azul, em fileiras. Depois se espalham e comem plantas aquáticas que pescam lá do fundo do leito. Por encantamento, um casal de cisnes enamorados começa a cortejar. Até parece que sabiam que eu tanto queria fotografá-los. Por estas cenas, na verdade, eu havia esperado já de longa data. Num delicado ritmo, os cisnes nadam um em frente ao outro e aproximam carinhosamente suas cabeças, formando a forma perfeita do amor. Em amável e expressiva linguagem, dançam de forma elegante e se tocam. Me emocionei, é belíssimo. Fiquei a vê-los por mais de uma hora. Ao nadar, deslizam pelas águas, suaves e leves, como se fossem pétalas brancas. Um casal de cisnes vive junto para sempre, sempre.

A água transmite sossego, o ritmo sempre igual embala-me com doçura. Ouço seus ruídos que me são melódicos. Paradas e profundas, águas transformam- se em um brilhantíssimo espelho. Podem se apresentar abundantes e poderosas em violentas ondas. Águas de mar, de chuva, de rios e riachos, de lagos. Águas procuram caminhos, nascem em montanhas, deitam sossegadas em grandes vales, rastejam feito serpentes e se entregam ao mar. Elas banham cidades, penetram em fiordes, saltam cataratas e abraçam arquipélagos. Águas separam países e continentes.




Version:1.0 StartHTML:0000000167 EndHTML:0000002624 StartFragment:0000000448 EndFragment:0000002608
Águas salgadas e doce circundam meus caminhos. Vivo numa ilha e o mar está a poucos passos de onde estou. Em meu bairro há grandes lagos também. Águas fazem dessa cidade, como a proa faz parte de um navio. Convivo com a água. Azuis líquidos, a cor da saudade. Gosto de estar em sua companhia, sempre que possível, busco sua presença. Ela é misteriosa e bela em sua transparência. Constantemente, exercito desvendar seu claro rosto e tento – em vão – palavrear a sua real existência e o poder que por sobre mim exerce. Ela é infinita em toda sua existência. Ao vê-la, me sinto feliz. Meus passos então se apressam e, em minha sofreguidão, acabo correndo para nela molhar meus pés ou para brincar com sua fresca liquidez que corre pelos meus braços. Contudo, em sua constante mudez, cobre-me de melancolia. Margeio os lagos ao entardecer, onde há um caminho para passantes e outro para as bicicletas. Agora há centenas de pequeninos cristais distribuídos em suas serenas águas. Um cortejo de cisnes nada nada pela extremidade azul, em fileiras. Depois se espalham – pais e filhos, e comem plantas aquáticas que pescam lá do fundo. E, para minha felicidade, um casal de cisnes brancos começa a cortejar. Até parece que sabiam que eu tanto queria fotografar estas cenas. Num delicado ritmo, em linguagem compreensível, dançam a música do amor. Me emocionei, é belíssimo. E eu senti uma pontada de alegria. Fiquei a vê-los por mais de uma hora. Ao nadar, deslizam pelas águas como se fossem um pacotinho de algodão doce. A água transmite sossego, o ritmo sempre igual embala-me com doçura. Ouço seus ruídos que me são melódicos. Paradas e profundas, águas transformam- se em um brilhante espelho. São abundantes e poderosas. Tão completas. Águas de mar, de chuva, de rios, de lagos. Águas procuram caminhos, nascem em montanhas, deitam em vales, rastejam e feito serpentes e se entregam ao mar.

terça-feira, 5 de agosto de 2014


Muitas vezes, ao andar de trem, ao fotografar no parque, ao passear pelo bairro, escrevo um texto em pensamento. Na verdade, falo com você. É, eu conto algo. E na hora... esse meu contar me agrada e posso até imaginar o brilho de seus olhos ao me ouvir... se por ventura me ouvisse. Mas depois, ao tentar registrar um pensamento bonito assim anteriormente criado, parece que tudo fugiu. Procuro mais uma vez reunir as palavras e formar um texto bacana. Mas cadê? Parece que não sei escrever uma única frase. Incrível, mas a escrita é momentânea e precisa de todo o imenso entusiasmo. Sem a emoção, a mensagem será seca e sem sentido. Então fica este vazio e esta falta de alguma coisa. Tantas vezes é assim. Como se não bastasse, somo ainda a minha auto-crítico e então surge um momento hiato, um espaço em branco que não consigo preencher. De todas as maneiras, escrever em meu idioma é algo que me fortalece, que me faz bem. É parte do que sou. E eu divido com você – que sempre, sempre me escuta.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

 
Ivoti, no ano de 1977. Lembro-me tão bem quando vim morar nesta casa grande. Ah, como tudo era magnífico. A começar com os jardins. Havia muito espaço para descobrir e muitas pessoas para cativar. Confesso, eu me sentia uma formiguinha a andar pelos corredores que eram feito estrada, larga, longa e florida. Pelos vitrais a luz se aconchegava e sempre, sempre permitia que víssemos o azul do céu quando estávamos a caminho do saguão. E à noite eu tropeçava pela lisa cerâmica na tentativa de ver as estrelas. O lugar onde eu iria estudar era, verdadeiramente colossal e, diante dele, tudo em mim era fragilidade e inquietação. Me sentia um tantinho aventureira, todavia, uma metade de mim era pura timidez, regada a olhares furtivos e a voz embargada de emoção. Encabulada eu via, aqui e ali, pequenos grupos de estudantes que conversavam em voz alta e lembro também da euforia do reencontro dos que já se conheciam. Na sala de estudos e nos quartos haviam as alunas responsáveis, uma espécie de tutores. E eu era novata obediente em excesso, quase súdita. Os sentimentos, que eu nem ouso caracterizar, simbolizava-os em lindas caligrafias, imprimidas em papel de seda – algo que chamávamos de carta. Relatos que nunca eram menores de cinco páginas. E por falar em tutores, havia muitos deles no internato – até mesmo, chefes de mesa. E, neste contexto retangular formado por oito pessoas, aprendi – já na primeira refeição - uma palavra nova: Fitchei! Esse vocábulo, inexistente em todo e qualquer dicionário da Língua Portuguesa, não carecia de explicações. Em sua escrupulosa existência, desconhecia-se a sua origem. Todavia fazia parte do patrimônio da escola e era, ao nossos olhos, universal. Fitchei exigia um complemento, algo como um objeto direto que... talvez no final da refeição, passaria a ser um substantivo abstrato. Fitchei o que ? A sobremesa! Fitchei a carne, fitchei o bolinho. Eu fitchei alguma coisa. Esta palavra, em sua classificação gramatical, era um verbo que jamais seria intransitivo, pois nós fitchávamos sempre alguma coisa, uma provável sobra, com a qual supríamos emoções e fomes. pouco tempo haveria de entender que “os velhos” eram ninguém mais do que nossos professores, independente da idade deles. E, ao cair da tarde, depois da janta, você levava o violão e, num sorriso brejeiro, me convidavas para ver o anoitecer nas escadarias da cancha de esportes. E tu interpretavas Gil com tamanha perfeição... Dedilhavas Blowin in the Wind e eu cantarolava a letra que na época eu sabia de cor. Bob Dylan era um de nossos favoritos. Lembras? Sim, éramos jovens e em nossos corações morava toda a esperança do mundo e acreditávamos encontrar no vento as respostas para todas as nossas perguntas. Tudo, tudo em nossas vidas ainda estava por acontecer.

Hoje você está voltando para este lugar que um dia foi a nossa casa. Foi aqui que tecíamos a teia de nosso futuro. Num dia como hoje, estamos com o coração no passado e por um momento fugaz, somos a mesma turma novamente. Encontramos em cada abraço o repouso da saudade... a embriaguez da emoção e a quebra dos silêncios. Reencontrar você é contemplar o passado, intensificar o presente. Algum dia volto para lhe rever e nosso encontro será colorido e reluzente e então poderei me desfazer de toda esta bagagem de lembranças. E em contradança, haveremos de transformá las em risos e em palavras. Em gritos de felicidade.

Neste momento em que estás lendo minhas palavras, talvez eu esteja parada no cais do porto em Copenhague. Quem sabe, uma brisa marítima levará um pouco de mim para você. Ela acariciará sua pele e lhe dirá que... se um dia lhe amei, hoje lhe amo. Em sussurros dirá que, se um dia nos separamos, hoje quero lhe reencontrar. O vento lhe dirá que… eu seria imensamente pobre se nunca tivesse cruzado em seu caminho.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Algumas imagens dos guris 
durante a viagem. 





Matheus tirando um selfie 
( ...de brincadeirinha! ) 
com um pé na Alemanha e o outro na Suíça.

Chrissi na estação do metrô em Munique.


Com a prima Ronja
em Mainz


segunda-feira, 7 de julho de 2014

Wir wohnen im Stadtteil Østerbro, 
nicht weit vom Zentrum. 
Komponistenquartier heisst es, 
weil jeder Strasse nach einem dänischen 
Komponist genannt wurde.
Es ist eine Reihenhaussiedlung, 
die mehr als 100 Jahre alt sind. 
Deswegen sind sie beschützt, 
man darf an der Fassaden nichts ändern. 
Es gibt mehrere Vorschriften. 
In unsere Siedlung wohnt auch Dänemarks 
Ministerpräsidentin Helle Thorning Schmidt - 
ihr Haus ist ganz in der nähe - 
fast unsere Nachbarin.
Das Quartier ist beliet und hier wohnen 
viele Familien mit Kindern.


Im Erdgeschoss ist die Küche,
 Esszimmer und das Wohnzimmer.



Die schöne Einganstür - eine alte restaurierte Holztür.



Und so sehen die Strassen aus.













Die schwarz/weiss Bilder 
habe ich selbst fotografiert.




Die Nachbarn





Bei den Jungs, im 2.Stock, 
sie haben einen kleinen Fernsehraum für sich alleine. 
Nebenann sind die Schlafzimmern von Matheus und Chrissi.





Im Hintergarten- ganz klein!





terça-feira, 24 de junho de 2014



Tenho em mim toda a euforia da festa verde amarela. Ser brasileira me orgulha sobremodo. Trago comigo um legado imenso de encantamento. Corre em minhas veias o ritmo exuberante da pátria viva, tropical e hospitaleira. Nunca perdi esse majestoso amor – feito sol, cachoeira, granizo, nevasca, vulcão, tempestade, – que até me faz perder a razão, o senso crítico e, ensandecida, me leva às lágrimas ao ouvir o Hino Nacional. Isto pode parecer comovente demais, um exagero talvez, fanatismo... Mas fazer o quê? Em contrapartida, sinto uma insustentável mágoa com ao saber de que educação, saúde e moradia ainda são irreais para muitos brasileiros. Confesso, não tenho nenhuma resposta ao falar sobre corrupção e pobreza infantil, mas inquietam-me... inquietam-me tantas perguntas. Sonho todos os sonhos e acredito que algum dia acabe a violência em nosso país e que tenhamos mais tranquilidade. Utopia? Ingenuidade? Surreal? “Se as coisas são inatingíveis... ora! Não é motivo para não querê-las”, ensina o poetinha querido. Ao falar do Brasil, formo uma teia de boas palavras. Procuro, deste modo, ilustrar a afetividade sempre, sempre em mim existente. E, quem ama cuida. Vivo fora, mas me empolgo... e sofro junto.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Irmã da gente é um tesouro. É a pessoa que se ajusta ao que somos, é metade amiga, metade mãe. Inseparável e confiante – a que em nós confia. Com ela dividimos os primeiros passos, o primeiro dia na escola, o primeiro amor, a conquista e... a dor do fracasso. Quando meninas, usamos a mesma cor de vestidos, os mesmos sapatos e as mesmas fitas Em laços afetivos, dividimos ideais, somamos conceitos e subtraímos decepções. Fomos embaladas pelos mesmos braços e nos aconchegamos no mesmo colo. Nossa irmã é porto seguro, a pessoa que nos acolhe, a que nos compreende, que guarda nosso segredo e a que nos defende. Ela nos passa a maior bronca e sempre, sempre nos aplaude. Damos gargalhadas e falamos bobagens. Brigamos e nos abraçamos. Adorável pessoa que nos ampara. Que nos ampara no momento oportuno e nos segue. Juntas... desconhecemos a solidão. Irmã da gente é feito alma gêmea - a semelhança em nossas diferenças. Mana, sou um pouco... do muito que és!